sábado, 11 de julho de 2009

Cuba na vitrine

Apesar do futuro político incerto na ilha, mercado de arte esquenta e atrai novos colecionadores

Estão lotados e cada vez mais frequentes os voos entre Estados Unidos e Havana. Desde que Barack Obama liberou viagens de cubano-americanos à ilha e facilitou vistos para seus cidadãos, Cuba vive uma espécie de degelo pós-era Bush e tem no mercado de arte um sinal forte desses novos tempos.
Pela primeira vez em mais de 20 anos, a ilha recebeu uma exposição de artistas norte-americanos, parte da última Bienal de Havana, encerrada em abril. Atrás deles, vieram colecionadores estrangeiros que fizeram triplicar os preços das obras no mercado local e voltaram os olhos do circuito internacional para a ilha e seus artistas.

É uma guinada que jogou o país comunista, bastante isolado e com produção artística em grande parte ainda fraca e datada, no furacão do mercado global, ainda que por um instante.
Carlos Garaicoa, a dupla Los Carpinteros e Tania Bruguera, com projeção mundial tão grande quanto o valor de suas obras, são destaques de uma cena ainda tomada por arte decorativa, até ingênua, mas ajudaram a turbinar a venda de outros cubanos pelo mundo.
Seus colegas menos conhecidos, como Felipe Dulzaides e Abel Barroso, que estiveram na última Bienal de Havana, têm recebido convites para expor em Tóquio, Xangai e outros pontos distantes da ilha.

"A arte cubana já faz parte da linguagem global", diz Dulzaides, que hoje mora em San Francisco. "Muitos aqui nem têm internet, mas trabalhamos com galerias fora de Cuba", completa Barroso. "Não há colecionadores na ilha, então vendemos nossas obras para fora."
Mas é um boom ainda restrito ao mercado. No plano político, são tímidos os sinais de abertura mais ampla, como a decisão da Organização dos Estados Americanos de derrubar a restrição à entrada de Cuba no bloco, e promessas de Obama de normalizar relações com a ilha até o fim de seu mandato.

"Há um interesse renovado por arte cubana", disse à Folha Ben Rodríguez-Cubeñas, diretor do Cuban Artists Fund, em Nova York. "Temos agora uma possibilidade de restabelecer laços que se perderam."

Ele fala do governo Bush, que proibiu viagens e qualquer intercâmbio entre EUA e Cuba em 2004, rompendo com algumas exceções abertas no mandato do democrata Bill Clinton.
Na esteira desse isolamento, vem essa abertura ainda em fase embrionária. "Alguns artistas cubanos estão explodindo, os preços triplicaram", diz Sandra Levinson, do Center for Cuban Studies, em Nova York, que acompanha arte cubana há 40 anos. "A economia continua terrível, mas o mercado de arte continua de pé. É um sinal de novos tempos em Cuba."


Operações de limpeza
Ou quase. "É muito prematuro ainda para falar em grandes mudanças", diz Luis Miret, diretor da galeria La Habana, a mais importante de Cuba, à Folha. "Mas existe mesmo grande interesse por arte cubana."

"É uma produção que não se mede em preços", relativiza Sandra Ceballos, artista e dona da galeria Espacio Aglutinador, em Havana. "Essa produção contemporânea é fulminante, bate de frente e é cara porque é uma forma de arte visceral."

Tão fulminante e visceral que continua enfrentando censura. Se os tempos mudaram para o mercado, ainda é comum o cancelamento de exposições na ilha e perseguição a artistas. Ceballos teve mostras fechadas no ano passado, lembra outras três coletivas censuradas e diz ter sido alvo de uma circular do governo, com "acusações pessoais insustentadas". "Não há liberdade de expressão em Cuba", diz ela. "Só operações de limpeza ante a opinião pública internacional."



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Por: Silas Martí
Da Reportagem Local
Enviado pelo meu amigo Wallace Feitosa.

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Cessel disse...

Olha, eu nunca sequer imaginei um Bienal em Havana. É bom saber que a arte resiste a tudo.

CS Empreendimentos Digitais disse...

pois é cessel! é disso que eu me refiro quando falo que a arte não tem fronteiras e que ela está em todo logar!

Giovana disse...

arte não tem fronteiras e isso é sensacional!

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