Guitarrista do grupo Titãs, Tony Bellotto, narra a história de um roqueiro em maré baixa. Esse é o novo livro lançado pela Companhia das Letras e mostra um bellotto mais contemplativo e perdido em suas meditações sobre arte, vida e envelhecimento.
Matéria de Carlos Messias, para a revista Rolling Stone (out. 2010).
Cintia
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Esqueça sa complexas tramas policiais e o suspense iminente que fizeram a fama do Tony Bellotto escritor com a trilogia Bellini (1995, 1997, 2005). Mas, se você gosta do protagonista desses livros, aquele tipo canastrão que enxerga um viés sexual em tudo e não tem medo de assumir os próprios defeitos, vai se deliciar com "No Buraco", primeiro romance adulto do guitarrista dos Titãs a se passar longe dos distritos policiais. Desta vez, o protagonista é o Teo Zanquis, ex-guitarrista de uma banda de um hit só dos anos 80 que, nos tempos atuais, amarga uma longa e contínua derrocada, sozinho ou na companhia de Lien, sua namoradinha de 19 anos. De suas memórias oitentistas saem as cenas mais engraçadas , já que o protagonista olha para aquele "período trágico" sem o menor saudosismo. E dá-lhe referências pop. Seu sarcasmo é ainda mais afiado do que o de Bellini, e o autor se permite ser mais descritivo quanto aos detalhes sexuais. Mas 'No Buraco' não se resume a um livro de humor, e o drama do roqueiro derrotado convence. O vocabulário do autor é totalmente coloquial e admiravelmente preciso, o que garante o bom ritmo da história e a fluidez da leitura.
Entrevista:
- O livro trata de um guitarrista de rock decadente. Tirando a parte do sucesso, o quanto de Teo Zanquis é autobiográfico?
- O Teo Zanquis tem muita coisa minha. E náo é só uma projeção tipo "Tony versão frustrada". Por mais sucesso que você faça , o fracasso é sempre uma sombra constante, ameaçadora e instrutiva. Ninguém está satisfeito com o que tem. Para mim, a questão principal desse personagem não é nem o fato de ele ser um guitarrista, fracasado ou não. É o fato de ser um homem que completa 50 anos e se depara pela primeira vez com a finitude da vida. E nisso eu e o Teo somos a mesmíssima pessoa.
- No livro, você se refere aos anos 80 como um período trágico para a nossa cultura. Algum arrependimento, do ponto de vista artístico?
- Olha, essa é uma visão do Teo Zanquis, que, como você já percebeu é um sujeito extremamente recalcado e ressentido. Há algo de desdém nessa visão. Apesar de concordar com o Teo que alguns figurinos e cortes de cabelos dos anos 80 eram pavorosos, vejo muita qualidade em vários trabalhos da época, como o de bandas como a minha, Titãs, Paralamas, Legião, Blitz, artistas como Lulu Santos etc. Por outro lado, devo concordar com Teo Zanquis quando ele diz que as bandas brasileiras da época copiavam deslavadamente as estrangeiras.
- O quanto das memórias de Teo são baseadas nas suas experiências?
- Quase tudo o que está no livro. Não quer dizer que eu tenha vivido tudo aquilo ípisis litteris. O grande fascínio da ficção é justamente poder alterar e distorcer a realidade à vontade. Descrevo situações que vivi, muitas que presenciei, algumas de que ouvi falar e outras coisas eu inventei, claro.
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Interessante !!! já tá na minha listinha. Vlw a dica !!!
Bjs Lu
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