Hoje vou falar de uma grande artista brasileira que marcou a arte moderna por aqui de uma forma muito interessante e até mesmo incompreendida na época. Tarsila do Amaral nasce em 1 de setembro de 1886, em Capivari, interior de São Paulo. Filha de fazendeiros, passa a infância nas fazendas de seu pai. Estuda em São Paulo, no Colégio Sion e depois em Barcelona, na Espanha, onde faz seu primeiro quadro,
‘Sagrado Coração de Jesus’, 1904. Quando volta, casa-se e tem sua única filha, Dulce.
O casamento não vai bem e o casal acaba se separado alguns anos depois. Assim, inicia seus estudos em arte. Começa com escultura, com Zadig, passando a ter aulas de desenho e pintura no ateliê de Pedro Alexandrino em 1918, onde conhece Anita Malfatti.
Em 1920, vai estudar em Paris, na Académie Julien e com Émile Renard. Fica lá até junho de 1922 e fica sabendo da Semana de Arte Moderna (que acontece em fevereiro, em São Paulo) através das cartas da amiga Anita Malfatti. Quando volta ao Brasil, Anita a introduz no grupo modernista e Tarsila começa a namorar o escritor Oswald de Andrade. Formam o
grupo dos cinco: Tarsila, Anita Malfati, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. O grupo agita culturalmente São Paulo com reuniões, festas, conferências. Tarsila diz que "entrou em contato com a arte moderna em São Paulo, pois antes só havia feito estudos acadêmicos". Em dezembro de 22, volta a Paris e Oswald vai encontrá-la.
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Sagrado Coração de Jesus - 1904 |
Em 1923, Tarsila está em Paris acompanhada do seu namorado Oswald. Lá conhecem o poeta franco suíço Blaise Cendrars, que apresenta toda a intelectualidade parisiense para eles. Foi então que ela começa a estudar com o mestre cubista Fernand Léger e pinta em seu ateliê a tela
‘A Negra’. Léger fica entusiasmado com o estilo de tarsila e até chama os outros alunos para ver o quadro. A figura da Negra tem muita ligação com a a infância de Tarsila, pois essas negras eram filhas de escravos que tomavam conta das crianças e, algumas vezes, serviam até de amas de leite. Com esta tela, ela entra para a história da arte moderna brasileira.
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A Negra - 1923 |
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Autorretrato - 1923 |
Ainda em 1923, Tarsila estuda com Lhote e Gleizes, outros mestres cubistas. Cendrars também apresenta Tarsila a pintores como Picasso, escultores como Brancusi, músicos como Stravinsky e Eric Satie. E fica amiga da brasileiros que estavam lá, como o compositor Villa Lobos, o pintor Di Cavalcanti, e os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado.
De volta ao Brasil, com Oswald de Andrade, Olívia Guedes Penteado, Mário de Andrade e outros, acompanha o poeta Blaise Cendrars em viagem às cidades históricas de Minas Gerais. Realiza uma série de trabalhos baseados em esboços feitos durante a viagem. Nesse período, inicia a chamada fase pau-brasil, em que mergulha na temática nacional. Em 1925 ilustra o livro de poemas Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, publicado em Paris.
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Abaporu - 1928 |
Em 1926 Tarsila expõe na galeria Percier em Paris. Inicia-se então sua fase antropofágica, de retorno ao primitivo, da qual o exemplo mais notável é um de seus quadros mais famosos,
'Abaporu', de 1928. O movimento antropofágico é desencadeado por Oswald de Andrade e Raul Bopp.
Em 1931, já com um novo namorado, o médico comunista Osório Cesar, Tarsila expõe em Moscou. Ela sensibiliza-se com a causa operária e é presa por participar de reuniões no Partido Comunista Brasileiro com o namorado. Depois deste episódio, nunca mais se envolve com política. Em 1933 pinta a tela
‘Operários’. Desta fase Social, tem também a tela
‘Segunda Classe’. A temática triste da fase social não faz parte de sua personalidade e dura pouco em sua obra. Ela acaba terminando o namoro com Osório.
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Operários - 1933 |
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Segunda Classe - 1933 | | |
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Em 1936 colabora como cronista de arte no Diário de São Paulo. A convite da Comissão do IV Centenário de São Paulo faz, em 1954, o painel
'Procissão do Santíssimo' e, em 1956, entrega
'O Batizado de Macunaíma', sobre a obra de Mário de Andrade, para a Livraria Martins Editora.
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O Batizado de Macunaíma - 1956 |
Em 1949, sua única neta Beatriz morre afogada, tentando salvar uma amiga em um lago em Petrópolis, o que causa muita tristeza na vida de Tarsila.
Participa da I Bienal de São Paulo em 1951, ganha uma sala especial na VII Bienal de São Paulo, e participa da Bienal de Veneza em 1964. A retrospectiva "Tarsila: 50 Anos de Pintura", organizada pela crítica de arte Aracy Amaral é apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), em 1969, ajuda a consolidar a importância da artista.
A filha de Tarsila, Dulce, falece antes dela, em 1966 e Tarsila falece em janeiro de 1973, deixando um legado indescritível para a arte brasileira.
Abaixo, mais algumas obras que marcaram a carreira dessa brilhante pintora:
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Paisagem - 1931 |
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Antropofagia - 1929 |
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Sol Poente - 1929 |
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Cartão Postal - 1929 |
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A Lua - 1928 |
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Primavera - 1946 |
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A Praia - 1947 |
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Tarsila do Amaral em São Paulo, década de 1930. |
Fonte: Itaú Cultural
Fotos: Obras - Itaú Cultural e História da Arte